(Recomendo a leitura desse capítulo ao som de Luna do Moonspell)
“A moça caminhava solitária por entre as árvores. Engraçado como sob o luar daquela noite, os galhos secos e as sombras pareciam mais ameaçadoras. A mulher, no entanto permanecia na sua marcha decidida, sem escorregar ou tropeçar por nenhuma vez nos galhos e cipós caídos no chão...e ela nem ao menos olhava para baixo. Seus olhos pareciam estar muito além.
Ela estacou de repente, como que reconhecendo o lugar. Um altar em pedra bruta erguia-se, logo abaixo da imensa lua cheia. Um simples bloco de pedras sobrepostas, esperando por ela, cercado de musgo e vegetação. Cada passo que ela dava em direção ao altar, o musgo se encolhia...abrindo caminho para um desenho esculpido na pedra.
O pentagrama invertido que as irmãs de sangue usavam estava desenhado ali, formando sulcos profundos.
A garota muito jovem deixou que a capa que cobria seu vestido deslizasse até o chão. Era loura e usava um vestido simples, negro, de mangas compridas. Ela tirou a adaga que trouxera presa á cintura e subiu a manga que cobria o braço direito. Lançou um rápido olhar para a lua antes de subir sobre o altar. Cortou o pulso profundamente e na vertical. Seu rosto nem ao menos se contraiu antes de repetir o procedimento do outro lado.
O sangue vertia rápido e ela despencou de joelhos, permitindo que ele preenchesse os sulcos na pedra. Sentindo a vertigem, ela deixou-se cair de costas sobre a pedra fria. Fria como ela própria estaria muito em breve. Da escuridão ao seu redor, as feiticeiras se aproximavam encantando o altar e o corpo exangue. Sua canção erguia-se sobre a mata...elas chamavam a lua para o renascimento de sua irmã.
E ela se levantou.....mas não era mais a mesma...seu corpo muito pálido e mortalmente ferido foi erguido por alguns instantes por sua imagem duplicada...como se estivesse num espelho, as duas muklheres olharam-se. Eram a mesma e eram diferentes. A mais fraca e humana tombou, finalmente morta e sorrindo.
A nova sacerdotisa deu graças á lua que brilhava vermelha no céu gelado. Estava renascida...não era mais humana e seu porte, o de uma rainha....a representação da lua encarnada.
Os cânticos elevaram-se até que a lua retornou a sua cor natural...e cada irmã maravilhada pelo milagre de sua Deusa, voltou para as sombras da mata. A noite em Akherousia voltou a ser silenciosa e o musgo tomou conta do altar, cobrindo o corpo esquecido da jovem suicida.”
Com o fim da narração, o silêncio também tinha voltado a imperar na casa. Victor estava chocado com as palavras de Hadiron. As imagens daquela narrativa pareceram tão vívidas...e o lembraram de alguma coisa ruim...mas as lembranças eram pálidas.
- Foi algo assim que aconteceu hoje na floresta?
- Victor...-Liriadne tentou acalmá-lo outra vez com aquele tom de voz morno- Entenda que aqui as pessoas são livres para adorarem seus deuses da maneira que acharem correta. Não é permitido a nenhum morador de Akherousia obrigar o outro a nada...como meu pai disse, a garota ofereceu-se em sacrifício e teve sua recompensa. As irmãs de sangue são poderosas feiticeiras da escuridão....mas não são as únicas moradoras daqui.
- Eu não sei o que estou fazendo aqui....eu não creio em nada...tudo isso parece tão estranho...-ele fez menção de levantar-se, mas foi detido pela voz do ancião.
- Sente-se e escute...há também amor nesse lugar. Liriadne vai lhe contar uma história de amor imortal....
CONTINUA...