quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Akherousia- Parte I

Pra embalar esse conto, ouça Akherousia, do Draconian

Eu abri meus olhos e só conseguia pensar que droga de luz era aquela. Tão forte que me cegava, e incomodava mesmo com as pálpebras fechadas.
- Não se mexa....está tudo bem...
A voz era suave...mas parecia derramar fogo a minha volta. Um calor imediato me entorpeceu...eu só conseguia pensar que tudo me lembrava uma morna tarde de verão no meio do campo...como aquelas férias em que visitava meus avós no interior.
O som dos pássaros acima de nós me forçou a abrir os olhos mais uma vez e com algum esforço, divisei a copa de uma árvore. Eu mesmo estava deitado sob ela...ao meu lado, uma mulher olhava-me, sorrindo placidamente.
Eu conhecia aquele sorriso, meu deus...eu a conhecia de algum lugar.
- Olá Victor. Bem-vindo de volta.
Logo após o choque de ter tamanha beleza tão perto de mim, a segunda coisa que notei foram suas roupas. Um longo vestido preto, de um tecido muito leve, o colo branco e delicado à mostra sob um decote generoso, os cabelos muito pretos e muito compridos, lisos, que emolduravam um rosto delicado e jovem.
A voz, no entanto, não parecia a de uma menina. Nem os olhos escuros que me olhavam de volta.
- Onde estou? Como vim parar aqui?- quis sentar-me de imediato, mas suas mãos me convenceram a fazê-lo bem devagar. Eu ainda me sentia tonto.
- Estamos em Akherousia...imaginei que pudesse se lembrar...já que foi você que nos procurou. Não reconhece esse rio?
Só então olhei para a paisagem...sim...havia um rio não muito distante dali. Um rio cristalino, agora eu podia ouvir seus sons. Era como se a vida estivesse pouco a pouco retornando ao meu corpo...e os sentidos estavam se adaptando a ela com uma certa lentidão.
- Eu não me lembro...- murmurei confuso e devo ter parecido um grande idiota aos olhos dela, porque a mulher levantou-se e me ajudou a ficar em pé também...ainda me apoiando nela, começamos a caminhar na direção a uma vila.
- Meu nome é Liriadne. Não se esforce para lembrar, porque isso não será possível...você nunca ouviu esse nome antes.
- Mas eu já a vi antes...
- É claro que sim...você me pediu para trazê-lo a Akherousia. Eu, pessoalmente mostrei-lhe o caminho.
- Desculpe...mas não me lembro da viagem. Não sei por que não posso me lembrar de nada depois da morte de Ana...- um alarme disparou em minha cabeça....ANA! Minha Ana estava morta! Eu a vi ser enterrada...ela e meu filho em seu ventre...mortos mortos....
Cai de joelhos ante a terrível constatação. Liriadne abaixou-se ao meu lado e permaneceu abraçada a mim por longos instantes, ouvindo-me chorar.
- Eu sei de tudo o que houve...mas isso já passou. Temos que chegar à vila antes do anoitecer, Victor...-ela olhou preocupada para o sol que se punha atrás das árvores- Temos que sair da floresta agora mesmo. As feiticeiras irão realizar seu culto à Luna de Sangre hoje e homens não são bem vindos por aqui.
Não sei de onde ela reuniu tanta força já que era uma mulher pequena, mas ergueu-me e passou meu braço ao redor do seu corpo, arrastando-me para longe dali.
Ainda apático eu vi pessoas a nossa volta...falavam sobre coisas que eu não queria ouvir. Um velho estendeu-me uma caneca..não sei o que era aquele líquido, mas era uma bebida envelhecida em tonéis de carvalho...eu deixei que ela me aquecesse por dentro.
A noite era mais fria em Akherousia...e Liriadne me ofereceu um quarto numa casa muito simples...eu demorei a perceber que não havia luz elétrica lá. Era uma comunidade isolada do mundo....talvez como os amish...eu ouvi então os cânticos que vinham da floresta e saí do meu quarto para encontrar Liriadne e o ancião que me deu a bebida, sentados em torno de uma lareira, conversando em voz baixa.
- O que é essa música?- eu perguntei, logo após o velho ter me oferecido um lugar ao seu lado.
- São as seguidoras da Lua Negra, Victor- a voz do velho parecia carregada de sabedoria e energia. Quando ele falava, o ar parecia agitar-se a nossa volta.
- Hadiron, meu pai, pode contar ao nosso visitante mais sobre essas mulheres?Acho que ele vai apreciar as histórias do nosso povo para distraí-lo nessa noite fria.
Eu não tinha certeza se queria ouvir mais, mas não quis demonstrar a verdade...eu estava era com medo!
- Claro que sim...conte-me, por favor.
E Hadiron então clareou a voz para começar a narrar....

CONTINUA...                       
(obrigada pela idéia Leandro...dedico a você esse primeiro capítulo) 

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